segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os desafios da Educação a Distância

Os desafios da Educação a Distância


Jan Pearson, britânico de 41 anos, é conhecido como futurólogo da tecnologia. Na revista Isto é Dinheiro nº245, começa fazendo previsões sobre a inteligência artificial em brinquedos e eletrodomésticos. Terão vida própria, independência de seus proprietários. Na corrida espacial, asteróides poderão ser implantados com sucessos em seres humanos e seus sentimentos e desejos poderão ser conectados diretamente às pessoas. Pearson deu prazo de 30 a 75 anos para tudo isto acontecer, o que libera as muitos de nós de verificar se tudo realmente vai acontecer. Nada disse sobre a possibilidade de um indivíduo engolir uma pílulas conseguir conhecimento instantâneo. Por esta razão é que o processo do aprender é árduo e demorado, dependente ainda dos mestres, do instrutor, do professor e da experiência de vida. Porém, de uma coisa temos certeza: daqui para frente ele deixará de ser realizado como foi há séculos. Simplesmente porque as pessoas mudaram, o ambiente modificou-se e a tecnologia e o mundo também.
O paradigma educacional formatado pela falta de um professor a alunos ouvindo ou tomando notas está superado. Os cursos planejados em currículos de quatro ou cinco anos, para serem oferecidos diariamente em regime de quatro horas em dois semestres e duas férias estão com os dias contados. A presença ser obrigatória em três quartas partes do ano e os alunos precisando ir ao local da Escola também.
Contrariamente a países com Espanha, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos, Canadá e alguns outros, a cultura do ensino superior não presencial nunca progrediu por aqui. Houve poucas experiências de sucesso em programas de alfabetização de primeiro e segundo graus pelo rádio e televisão, via correio só os cursos profissionalizantes das escolas Monitor Internacional.
Estamos levantando esta questão porque o próprio MEC, pela portaria 2253, está abrindo possibilidade de realmente o ensino superior ser parcialmente feito de forma não presencial. Este é o grande desafio que as instituições universitárias precisarão vencer, bem como aqueles que desejarem oferecê-lo totalmente a distância.
Nos últimos 20 anos, a revolução tecnológica digital atingiu todas as áreas da indústria, das telecomunicações, do comércio e dos serviços, ampliando consideravelmente o desempenho dos fatores de produção, aumentando o desempenho das pessoas e agregando resultados às empresas e aos negócios. Desta vez, o sistema educacional não teve condições de escapara e, se no começo contentava-se em implantar salas e laboratórios de computadores, hoje ele vê diante de uma realidade desafiadora de como efetivamente ensinar a distância. Isto é, como o aprendizado pode de fato acontecer mediado pela tecnologia digital, onde as barreiras de espaço e tempo são eliminadas por atividades síncronas e onde o professor e os alunos podem intercambiar idéias e experiências. Melhor ainda, com o advento da internet por si só, uma tecnologia multimídia, como permitir na comunicação entre indivíduos condições excepcionais de aprendizagem que não foram ainda utilizadas educacionalmente. Mas se tudo parece tão claro, quais são os problemas?
ENTUSIASMO INICIAL
Nestes últimos anos, o lançamento de empresas pontocom explodiu em todos os cantos do mundo. Alcançou o Brasil e também a educação. Tratando-se de atividade nova, sem histórico anterior, o entusiasmo pelo pioneirismo contagiou muitos e nem sempre os mesmos procedimentos que deram certo no presencial serviram de modelo para a criação de instituições de EaD. Não vale a emoção e a inovação. Há também de usar a razão.
FALTA DE PLANEJAMENTO
A falta de percepção do foco do negócio, não entendendo que a atividade maior é a transmissão do conteúdo e não a tecnologia, fez com que muitas iniciativas não prosperassem porque esta foi supervalorizada em detrimento do conteúdo. No lugar de se pensar primeiro em que, como, e a quem ensinar, pensou-se primeiro no meio, valorizando a máquina e não a informação a transmitir. Sem levar em conta que o processo pedagógico de ensino-aprendizagem também deveria ser pensado antes. O software é conseqüência.
DIMENSIONAMENTO DE CUSTOS
Estamos acostumados a retorno a curto prazo. Se não acontecer no mês seguinte não é bom negócio. Não se pesquisou fora do país para se conhecer os altos investimentos que estes empreendimentos exigem. No mundo, as universidades bem-sucedidas estão investindo dezenas de milhões de dólares em EaD e ainda não tiveram o retorno esperado, mas estão na vanguarda.
TECNOLOGIA
É lógico que para a transmissão de informações, a tecnologia é importante. Qual o melhor sistema virtual de aprendizagem? Qual oferece melhores eficiências e melhores resultados? Qual a melhoe estratégia? Contratar equipe própria, comprar ou licenciar sistema existente com os WebCT, E-college, UVB, Aula Net, Blackboard?
ADAPTAÇÃO À NOVA MÍDIA
Repetir os mesmos procedimentos do presencial é ledo engano. Passar para o broadcast o mesmo texto apostilado de uma aula presencial é erro maior ainda. A linguagem é outra, a imagem é outra, e o papel do professor é completamente diferente. Ele é mais um orientador de informações e promotor de temas para reflexão e discussão. Ele propõe desafios e os alunos devem encontrar respostas. Ele mostra o caminho e os atalhos para chegar-se ao conhecimento.
FALTA DE CULTURA DE EaD
Como já dissemos, na educação superior o Brasil não passou pelo ensino via correio. De repente, a Internet revoluciona tudo e torna-se panacéia para todos os males e solução para todas as questões educacionais.Pode ser, mas leva tempo. É um processo que se consolida no ensaio e erro, da mesma forma que foi a passagem do rádio para a televisão. Ainda não existem fórmulas certas. A novela das oito é incrivelmente melhor do que há 30 anos.
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Ninguém ainda perguntou ao nosso aluno se ele está interessado em EaD. Será que o brasileiro vai ter o mesmo comportamento que o canadense que viva sob outras condições de clima e que passa uma boa parte do ano dentro de casa. Mas há uma realidade gritante: cada vez é maior o acesso aos computadores e cada vez mais as crianças são iniciadas nas suas práticas. A nova geração acostumada a buscar informações na internet, certamente, julgará mais prático aprender em momentos diferentes daqueles estipulados pela regras da obrigatoriedade da freqüência.
ASPECTOS LEGAIS
É lógico que uma sociedade desenvolvida deve ter regras e sistemas de conduta. Há uma legislação de ensino para ser cumprida e obedecida. Mas o Brasil culturalmente funciona no sistema cartorial. Está nas entranhas, nada é aprovado se não passar pelo crivo do Estado. Como dar credibilidade à EaD se muitas vezes até o presencial é realizado à distância?
Acompanhamento sim, mas é preciso dar crédito às boas iniciativas, à experiência e à tradição das instituições. Se há autonomia universitária, ela precisa ser exercida plenamente. Se implicitamente é reconhecido que a universidade detém ou administra o conhecimento, este pode ser transmitido por qualquer meio. O que importa é aprender e não o local onde se aprende. Bem ou mal, existem sistemas de avaliação que começam a ser respeitados. Se for o que importa, nada mais existe de real do que a EaD. Enquanto ninguém sabe o que acontece na sala de aula, na EaD tudo pode ser constatado e avaliado.
CONCLUSÃO
Nada mais anacrônico que o atual sistema educacional, no qual muitas vezes a cultura do "faz-de-conta" é o que prevalece. As novas tecnologias, apesar de todas as críticas que lhes possam ser feitas, revolucionaram a humanidade. Certamente farão o mesmo na educação. Porém, não há milagres. A EaD não acontece da noite para o dia. Ao mesmo tempo em que não se tem certeza de como o aluno vai reagir, é certo que do ensino "on-line" ninguém escapará. Porque pouco a pouco vão se complementando as ações educacionais presenciais e a distância. E quem deixar de acompanhar essa transformação certamente ficará condenado ao ostracismo e será ultrapassado pelas instituições que acreditaram, investiram e mantiveram-se perseverantes nos novos rumos. Em termos de negócios, é condição de vida ou de morte das organizações. Quem viver verá.

Gabriel Mário Rodrigues
Presidente do Semesp 

Fonte: https://ead.tesouro.fazenda.gov.br/downloads/EaD.html

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